domingo, 6 de fevereiro de 2011

Súplica

Em tempos de megalomania por informações, até a língua muda! Mas venhamos e convenhamos, isso já era previsto por autores de clássicos imperdíveis da literatura mundial: George Orwell, Adous Huxley, Anthony Burgess, Saramago, e por aí vai.
Cada vez mais o ditado “tempo é dinheiro” é praticado e isso torna tudo que é demorado dispensável, enfadonho. Basta parar pra ler um torpedo de celular, ou um post no twitter para observar isso. As palavras são reduzidas a sílabas e às vezes até a siglas. É tudo muito curto, prático, objetivo.
Até a humilde autora que vos fala aderiu a tamanha “praticidade”.
Qual a última vez que você postou no seu blog? Blogs também tornaram-se enfadonhos?
O que me estimulou a voltar a escrever períodos com mais de cento e quarenta caracteres foi uma “música” que, definitivamente deu adeus a todos os valores que eu pudesse desejar que fossem perenes. É isso que dá assistir Faustão, né? Rs...
Nome da música: Eu era feio
Nome da banda: Garota Safada
Um trecho da letra: Eu era feio
Agora tenho carro ô ô ô ô
Eu sou muita mais feliz
A mulherada me adora
Tenho amigos pra curtir
E um carrão da hora
Minha vida mudou
Agora só penso em diversão
Tristeza xô,xô,xô
Adeus solidão

Por que em meio a tanto acesso a informação, as pessoas continuam se sentindo tão sozinhas? Sim, porque pra mim, quem compõe tal letra está desesperado para ser socialmente aceito, e nesta situação isso implica em ser financeiramente bem sucedido. Eu me choco com tamanha inversão de valores! Para quem ainda tem o mínimo de sensibilidade, letras de música do tipo acima citado, e as filosofias e práticas por elas incitadas, significam o exercício da crueldade da humanidade consigo mesma.
É de repente você se deparar diante de um mundo no qual a sua dor não cabe, no qual você lê “o estrangeiro” de Camus e se identifica até com o título.
Esse texto é uma súplica! Um pedido de socorro! Um grito de angústia digitado em um teclado que clama por justiça social, calor humano e vínculos gerados pelo “ser” das pessoas envolvidas.
Chega de instabilidade! Estou cansada de ser julgada pelo meu “não ter”! Eu quero conhecer o chão que piso e ter confiança para acreditar que as pessoas que me rodeiam assim o fazem pelo que tenho no meu caráter e não na minha conta bancária! Nem que eu tenha que me mudar para o asteróide B-612 pra ver tudo isso acontecer.

2 comentários:

Gustavo :: ovatsuG disse...

Concordo com tudo isso que você falou. Estamos todos condenados a viver nesse mundo injusto e individualista, encontrando apenas nas coisas aparentemente banais do cotidiano a nossa realização. Acho que a correria do dia a dia nos faz ficar cada vez mais monossilábicos, utilizando teclados ao invés da voz, siglas ao invés de palavras. E para que corremos tanto? Para tentar sobreviver neste mesmo mundo.
E o pior de tudo é que corremos tanto e não chegamos a lugar algum.
Nos sentimos sozinhos exatamente porque estamos sozinhos. Falar através de uma tela de computador ou telefone celular é uma coisa tão impessoal, fria...
Bom mesmo é quando nos reunimos com os nossos. Os que pensam e agem como nós. Que se indignam e celebram com as mesmas coisas. Esses momentos, sim, são valiosos e nem é preciso ir tão longe como o asteróide B-612 (ou algum vizinho). Vê que nosso amigo Pequeno Príncipe já se sentia sozinho lá e saía peregrinando de lugar em lugar para encontrar um amigo? A solidão estará presente em qualquer lugar que possamos estar. O negócio é aproveitar cada momento de alegria, fazendo-os superar os de tristeza.

K. disse...

são de pequenas vozes que grandes discursos são feitos. da mesma forma como são de pequenas súplicas que grandes causas ganham vida e a sua é extremamente atraente, xuquita!
em terra onde tudo anda de cabeça pra baixo e nessa mesmice sem fim, identificar-se com quem parece conservar alguma espécie de senso crítico (e sensibilidade!) é muito reconfortante!


xerinho.